Entrevista com Paulo Brito, professor do Instituto Politécnico de Portalegre (IPP) e parceiro do AIHRE
Paulo Brito é professor do Instituto Politécnico de Portalegre (IPP) uma instituição de ensino e investigação empenhada no desenvolvimento sustentável e na inovação em tecnologias energéticas. O IPP tem vindo a abraçar o desafio da procura de soluções energéticas sustentáveis num contexto de economia circular tendo apostado num centro de Investigação focado neste assunto, o VALORIZA, e uma Academia Para o Hidrogénio – A4H2, no sentido de ser um polo dinamizador de formação de recursos humanos que irão operar processos e tecnologias do hidrogénio e gases renováveis.
O IPP tem vindo a desenvolver na temática do hidrogénio e gases renováveis vários projetos de investigação, bem como, desenvolver várias ofertas formativas em todos os níveis de formação. Refira-se, o recente curso de Doutoramento em Hidrogénio e Gases Renováveis, primeiro em Portugal, e que pretende desenvolver trabalhos de I&DT que permitam abarcar toda a cadeia de valor dos gases renováveis desde os aspetos tecnológicos, passando pela disponibilidade de recursos, e indo até a sua aplicação. No âmbito do projeto AIHRE, o IPP centra a sua investigação na modelação do hidrogénio a partir da biomassa, pelo que Bruna Rijo desempenha um papel fundamental na promoção do hidrogénio renovável como solução estratégica para o futuro energético da região do POCTEP.

- Qual é a missão do Instituto Politécnico de Portalegre no âmbito do projeto AIHRE?
O IPP tem como missão investigar a produção de hidrogénio a partir de biomassa com base em tecnologias de gaseificação térmica assistida com uma unidade de energia solar de concentração que permite fornecer alguma de energia térmica necessária para o processo. O objetivo é disponibilizar uma instalação de produção e purificação de hidrogénio que permita que o mesmo seja utilizado como combustível.
- Em termos gerais, como descreveria o panorama atual do hidrogénio renovável na região de Portalegre?
Em Portugal a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) veio estabelecer uma visão para o hidrogénio, identificando oportunidades e identificando todas as cadeias de valor, bem como as políticas e medidas de ação legislativa e operacional a implementar de modo que os objetivos sejam atingidos, nomeadamente, a obtenção em 2030 de 5% de hidrogénio no consumo final de energia, no transporte rodoviário e no sector industrial, 15% de injeção na rede de gás natural, 50 a 100 estações de abastecimento e 2 GW de capacidade instalada. Foram objetivos ambiciosos que permitem contribuir para uma alteração efetiva do paradigma energético que temos atualmente, permitindo aplicações em diferentes situações que vão desde a mobilidade à atividade industrial. Esta conversão tem vindo a ser mais lenta do que se previa inicialmente, em muitos casos resultado de uma falta de regulamentação específica, havendo, atualmente, a necessidade de um ajuste das metas iniciais. Porém, é manifesto o interesse em prosseguir investimentos neste vetor energético, patente no número de candidaturas a projetos de investimento que têm sido apresentadas a linhas de apoio à produção de hidrogénio verde, sendo o Alentejo uma região com elevada propensão para os mesmos.
- Em que tecnologias específicas está o IPP a apostar para promover a utilização do hidrogénio renovável?
O IPP no âmbito do seu centro de investigação VALORIZA, tem vindo a desenvolver trabalhos de investigação aplicada na área da produção de hidrogénio e gases renováveis a partir de materiais residuais. Tem vindo a trabalhar com diferentes tecnologias de conversão, destacando-se, as tecnologias térmicas, onde se inclui a gaseificação e a pirólise onde é produzido um gás rico em hidrogénio que pode depois ser purificado, e tecnologias eletroquímicas, com a utilização de processos de eletrooxidação de efluentes no sentido de efetuar o seu tratamento, mas onde se obtém, também, uma corrente gasosa de hidrogénio.
- Como pensa que a implantação do hidrogénio renovável como fonte de energia limpa pode transformar a sociedade e beneficiar as comunidades locais?
A possibilidade de valorização de recursos endógenos, em particular, recursos biomássicos residuais, para fazer face a uma alteração de paradigma energético para a indústria e as comunidades locais, é uma estratégia que permite criar sustentabilidade a todos os níveis. A produção de gases renováveis, em particular o hidrogénio, a partir destes materiais com base em tecnologias de gaseificação térmica estão cada vez mais próximas do mercado e terão um papel importante na descarbonização de indústrias muito intensivas energeticamente, e que estejam instaladas junto de áreas agrícolas e florestais, e contribuir para a criação de comunidades energéticas locais.
- Quais são as expectativas do IPP para o impacto do hidrogénio renovável no cabaz energético de Portugal nos próximos anos?
As expectativas do IPP na questão do hidrogénio e gases renováveis são grandes, já que é notória a crescente consciencialização da necessidade de uma descarbonização da sociedade, bem como, de aumentar a circularidade nos materiais e recursos que utilizamos. O IPP tem vindo a fazer um trabalho de I&DT aplicado que vai ao encontro destas preocupações com o desenvolvimento de projetos de demonstração e que envolvem empresas e indústrias, em que o AIHRE é um excelente exemplo.
- Qual é para si a importância da cooperação transfronteiriça para o sucesso do projeto?
Vivemos num espaço global que apresenta localmente realidades diferentes, mas os problemas e dificuldades que Portugal e Espanha, e em particular as regiões interiores destes países, enfrentam em termos de procura de combustíveis alternativos sustentáveis que permitam combater alterações e climáticas e que sejam economicamente atraentes, são similares. Assim, trabalho técnico-científico em parceria criando sinergias de competências, é vital para o sucesso destes desafios e para criar maior valor nas nossas regiões. O IPP sempre teve a perspetiva de que o seu crescimento seja feito com base na criação de parcerias ao nível nacional e internacional.
- Por último, gostaria de partilhar uma mensagem sobre o impacto do hidrogénio renovável no futuro energético ou sobre a importância de iniciativas como a AIHRE para as regiões transfronteiriças?
Não tenho dúvidas, que o futuro da nossa sociedade irá ser mais sustentável e que terá com um dos pilares energéticos o hidrogénio e os gases renováveis. Projetos que promovam e demonstrem que este caminho é possível e que já está a acontecer, são essenciais. Projetos que envolvem e deem a conhecer à sociedade, as empresas o ao poder político este caminho. O AIHRE é um desses projetos!